quarta-feira, 15 de outubro de 2008

:: os 10 dos anos 70 - #09 ::

TELEVISION
Marquee Moon
(1977)


"Television’s first album is a record most adamantly, not fashioned merely for the N.Y. avant-garde rock cognoscenti. It is a record for everyone who boasts a taste for a new exciting music expertly executed, finely in tune, sublimely arranged with a whole new slant on dynamics, chord structures centred around a totally invigorating passionate application to the vision of centre-pin mastermind Tom Verlaine." - NICK KENT


O Television surgiu na hora e no lugar onde o punk americano estava começando a decolar: na metade dos anos 70, na cena que rodeava o CBGB’s, o pub tosco e histórico em Nova York. Foi ali que o grupo liderado pelos guitarristas Tom Verlaine e Richard Lloyd fez sua primeira apresentação ao vivo, para uma dúzia de gatos pingados. Inclusive uma mocinha genial, Patti Smith, que sairia dali se dizendo absolutamente apaixonada pelo vocalista de voz fanha e pretensões poéticas, de rara ambição, que começava a despontar em Verlaine. Billy Ficca, batera de orientação jazzística, e o baixista Fred Smith, substituto do membro-original Richard Hell, completavam a trupe.

Apesar de estarem no epicentro na ceninha punk que começava a pegar fogo, a banda se vinculava pouco ou nada ao estilo que se notabilizou por três acordes toscos, bateria frenética e gritaria primal com os Ramones, os Pistols e o Clash. O Television sempre teve uma aura mais cult, um virtuosismo instrumental mais refinado e um clima de intelectualidade e experimentação que tornava a banda in-rotulável como punk. Tinham mais afinidade com a estética do Velvet Underground ou com o som de certas bandas do rock clássico como o Lynyrd Skynyrd e o Grateful Dead, sem falar em grupos de fusion e progressivo. “Verlaine citava os Rolling Stones, o compositor clássico Maurice Ravel e os mestres do jazz Miles Davis e Albert Ayler como influências”.

Os duelos guitarrísticos (que por vezes se estendiam em improvisos quilométricos - "Marquee Moon", a música, tem 10 minutos de duração...), e as letras poéticas e um tanto surreais de Tom Verlaine (que tem um sobrenome imponente para um pretendente a poeta...) tornavam o Television uma banda radicalmente distinta de outros atos mais viscerais e primitivos que seriam depois rotulados como punk, que apostavam num minimalismo proposital.


Extremamente influente, apesar do sucesso comercial inexistente, o Television é o tipo de banda que precisou somente de um álbum, incrivelmente clássico, para entrar na história. O segundo disco, Adventure, foi um fiasco, e nada daquilo que fariam no futuro chegaria aos pés de Marquee Moon, um dos debuts mais finos da história do rock.

"Não muita gente conhece o Television, mas eles estão em todo lugar. Estão nas guitarras desconstruídas do Sonic Youth, nas notas sincopadas e garageiras dos Strokes, nos solos improvisados do Queens of the Stone Age, na crueza de PJ Harvey...", escreveu o Tiago Ney na Folha de São Paulo. Pois é: eis aí mais um caso de banda que marcou mais por influência em outras bandas do que por sucesso popular.

Com uma voz semi-anasalada e bastante incomum para um rockstar, Verlaine, que tinha nome e alma de poeta, construía painéis impressionistas e estranhos em suas letras – não é a toa que a jovem Patti Smith caiu de amores por ele e logo eles dividiram a autoria de um livreto de poesias. Outro paralelo entre ambos foi a escolha de fotos de Robert Mapplethorpe para a capa dos dois álbuns – Marquee Moon e Horses. Quando, logo na primeira música, Verlaine canta que “entendo todos os instintos destrutivos / eles parecem tão perfeitos / eu não vejo mal”, é como se estivesse defendendo o punk. Com quem ele tinha, talvez, uma ligação mais espiritual do que propriamente musical – e que estava presente numa certa despreocupação e numa falta de pudor de exibir aquela voz tão feia sem rubores.

Eterno queridinho da crítica musical, Marquee Moon compensa sua baixíssima vendagem e sucesso popular com uma pagação de pau por parte dos "entendidos" que é realmente digna de nota. Em 2003, foi considerado pelo semanário britânico NME o 3º melhor álbum de todos os tempos. Está entre os 25 melhores discos já lançados tanto no Rate Your Music quanto no Acclaimed Music. Nick Kent, um dos maiorais da crítica musical ao lado de Lester Bangs, carregou a mão quando escreveu suas loas em louvor ao álbum. Já a respeitadíssima Pitchfork o considerou o 3º melhor disco da década de 70.






2 comentários:

Anônimo disse...

Está aí o cd da Nova Mob, que pediu :

http://www.mediafire.com/?30mjxzohwlz

Peguei no site http://amorloucobr.blogspot.com/

Anônimo disse...

Por favor, "em troca", daria para postar o primeiro solo de Grant Hart All of My Senses de 1987 ?