sábado, 22 de outubro de 2011

Os clipes de Paul Thomas Anderson e Fiona Apple


Que P.T. Anderson seja um dos mais brilhantes cineastas americanos vivos é contestado por poucos. Na ilustre companhia de Fincher, Nolan e Aronofsky, Anderson é um daqueles raros artistas capazes de encantar as massas sem perder o respeito dos críticos, uma proeza "spielberguiana" de que poucos podem se orgulhar. Depois de cravar um par de clássicos já inscritos na história do cinema noventista em seu currículo (Boogie Nights e Magnolia), depois de atingir dimensões kubrickianas em Sangue Negro, e depois de provar que é um "maestro de atores" tão mágico que é capaz de extrair interpretações memoráveis até dum Adam Sandler (Punch-Drunk Love), Paul Thomas Anderson é decerto uma das mentes mais admiráveis hoje em ação na sétima arte.

Que Fiona Apple seja, de outro lado, uma das compositoras e intérpretes mais talentosas e adoráveis que surgiram nos anos 90 também é difícil de contestar - considerando a complexidade lírica, a autenticidade expressiva, a "aventurosidade" experimental e a ousadia confessional que fazem de Tidal, When The Pawn e Extraordinary Machine alguns dos melhores álbuns criados por uma cantora-compositora nas últimas décadas. Quando "estourou" em 1996 com o clipe-pólvora de "Criminal", carro-chefe do álbum que consagraria a menina-prodígio de 17 anos de idade como um fenômeno capaz de vender mais de 2 milhões e 700 mil cópias (segundo a RIAA), Fiona Apple já demonstrava que conhecia o potencial "visual" de sua música e que prometia dar ao mundo alguns clipes tão deslumbrantes quanto aqueles que Michel Gondry fez para Björk.

A "dobradinha" video-clíptica entre Fiona e P.T. Anderson, que chegaram a namorar por um tempo, têm quatro contribuições de encher os olhos. Mais ou menos na época em que apresentava a um público mais vasto outra cantora-e-compositora de muita expressão (Aimee Mann, catapultada para um sucesso mais amplo por sua trilha de Magnolia), Paul Thomas Anderson assumiu a direção de vários clipes do 2º álbum de Fiona Apple: a violenta e rancorosa "Limp", que contêm alguns dos versos mais inesquecíveis que ela já cometeu ("You fondle my trigger then you blame my gun..."); a galopante e audaz "Fast As You Can" e o belíssimo lamento de desconsolo e carência "Paper Bag" ("Honey I don't feel so good, don't feel justified... Come on put a little love here in my void...").

Além disso, dirigiu em classudo preto-e-branco a versão de Apple para "Across The Universe", dos Beatles, num clipe em que ela mantêm-se em estado de serenidade quase búdica, imperturbável em sua "meditação" com fones-de-ouvido, enquanto um pandemônio de destruição ruge ao seu redor.

São clipes que valem muito a pena serem assistidos e que revelam dois artistas autênticos que, na época de mais intensa colaboração e apaixonamento, além do vínculo afetivo e da cama compartilhada, uniram simbioticamente suas visões nestas pequenas pérolas do video-clipe. Um viva pra eles!



Um comentário:

Verônica disse...

Que máximo isso, sou apaixonada pela Fiona, e sabia de seu relacionamento com PT Anderson na época de "When the Pawn...", mas não sabia que ele tinha dirigido tais clipes dela, me senti muito mal informada, mas enfim, isso justifica, afinal são clipes tão artísticos e maravilhosos, logo se vê que foram feitos por um cineasta muito bom...