quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O jornalirismo de Eliane Brum: uma escutadeira que devemos escutar!

"Tenho tentado escapar da prisão da identidade. Ou da prisão de uma identidade imutável como a impressão digital do meu polegar. E esbarro no funcionamento do mundo - na necessidade persistente do mundo de me encaixotar em alguma identidade fixa e fácil de compreender.
Minhas respostas sobre quem sou eu não satisfazem ninguém. Porque o melhor e mais honesto que posso oferecer ao meu interlocutor são mais pontos de interrogação. E, definitivamente, pontos de interrogação não são populares. O mundo exige respostas com pontos finais e, de preferência, exclamações peremptórias.
Sou uma escutadeira. (…) A vida é um traçado irregular de memórias no tempo. Quero que, como inventário do vivido, meu corpo tenha as marcas de todas as histórias que fizeram de mim o que sou. E, se meus netos e bisnetos forem me contar, espero que jamais cheguem a qualquer conclusão fechada sobre a minha identidade. Esta seria a maior prova de que vivi." - Eliane Brum, "A Prisão da Identidade"

A Eliane Brum é uma das minhas leituras prediletas na net. É um sopro fresco de vida e de lirismo no combalido ramo do jornalismo, que ela areja justamente por romper certos dogmas da profissão: ao invés do tom impessoal e da procura pela mitológica "imparcialidade", Eliane Brum escreve quase sempre em 1ª pessoa, engajada sentimentalmente no que relata, e não temendo deixar que transborde em seu texto o seu afeto.

 E que texto! Num país que já têm em sua história todo um Olimpo de escritoras brilhantes - Hilda Hilst, Clarice Lispector, Cecília Meirelles... - Eliane Brum, nos últimos anos, têm feito por merecer um lugar de honra entre as mais interessantes escribas desta geração ao lado duma Marina Colasanti, duma Adélia Prado, duma Patrícia Melo, duma Martha Medeiros. 

A ousadia e a criatividade na escolha dos temas (as parteiras do Amapá ou a tragédia das mulheres do Congo, por exemplo...), a tomada de posição política explícita (contra Belo Monte e todos os ecocídios, dentre outras causas...) e a decisão de não se restringir a uma especialidade (ela não é só jornalista: faz documentários, escreve romances, dá palestras...) estão transformando a Eliane Brum numa figura, moldadora da opinião-pública, que realmente merece ser ouvida. Esta "escutadeira" merece ser escutada. Avante o jornalirismo!!!

Alguns textos bacanas dela que recomendamos a leitura:

Assista abaixo a entrevista que ela concedeu ao programa Provocações


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