quinta-feira, 23 de maio de 2013

"...a América que será protegida por uma enorme força militar não será a América do povo, mas aquela dos privilegiados; da classe que rouba e explora as massas e controla a sua vida, do berço ao túmulo." (Emma Goldman)




A MORTÍFERA LOUCURA DO BELICISMO
Texto de Emma Goldman (1869-1940)
Em "O indivíduo, a sociedade e o Estado"
(Ed. Hedra. Série Estudos Libertários.
Trad. Plínio Augusto Coelho.)


“Desprezo, arrogância e egoísmo são os três elementos fundamentais do patriotismo. Segundo a teoria do patriotismo, nosso globo seria dividido em pequenos territórios, cada um cercado por uma cerca metálica. Aqueles que têm a oportunidade de ter nascido em um território particular consideram-se mais virtuosos, mais nobres, maiores, mais inteligentes do que os que povoam outros países. É, pois, dever de todo habitante desse território lutar, matar e morrer para tentar impor sua superioridade a todos os outros. Os ocupantes dos outros territórios raciocinam do mesmo modo, evidentemente. Resultado: desde os seus primeiros anos, o espírito da criança é envenenado por autênticos relatos de terror concernentes aos alemães, franceses, italianos, russos etc. Quando a criança atinge a idade adulta, seu cérebro está completamente intoxicado…

“Necessitamos de um exército permanente para proteger o país contra uma invasão estrangeira”, afirmam nossos governantes. Todo homem e toda mulher inteligentes sabem, contudo, que se trata de um mito destinado a apavorar as pessoas crédulas e obrigá-las a obedecer. Como disse Carlyle, “a guerra é uma querela entre dois ladrões demasiado covardes para produzir seu próprio combate; é por isso que eles escolhem jovens egressos de vilarejos diferentes, põe-lhes um uniforme, dão-lhes um fuzil e soltam-nos como animais selvagens para que eles se entredestruam.”

Os norte-americanos dizem amar a paz. Parece que detestam verter sangue, que se opõem à violência. E, contudo, pulam de júbilo quando aprendem que máquinas voadoras poderão lançar bombas recheadas de dinamite sobre cidadãos sem defesa. Estão prontos a enforcar, eletrocutar ou linchar toda pessoa que, levada pela necessidade econômica, arriscar sua própria vida atentando contra a vida de um magnata industrial. Os corações inflam de orgulho ao pensar que a América se tornará a nação mais poderosa da Terra e que esmagará com suas botas as outras nações…

Ilustração do cartunista sírio Fahd Bahady

Toda a nossa civilização, toda a nossa cultura está concentrada na louca demanda de armas de destruição, se possível as mais aperfeiçoadas. "Munições! Munições! Ó Senhor, tu que reinas sobre a terra e os céus, tu, ó Deus do amor, da piedade e da justiça, concede-nos bastante munição para destruir nosso inimigo!" Tal é a oração que ascende ao céu cristão todos os dias.

Nos EUA, os chauvinistas e os especuladores belicistas não param de tartamudear slogans sentimentalistas de nacionalismo hipócrita: “A América de início, antes de tudo e sempre.” Milhões e milhões de dólares arrancados do suor e do sangue do povo serão gastos na compra de encouraçados e submarinos para o exército e a marinha, e isso tudo para proteger essa preciosa América. 

Esses discursos repletos de pathos dissimulam o fato de que a América que será protegida por uma enorme força militar não será a América do povo, mas aquela dos privilegiados; da classe que rouba e explora as massas e controla a sua vida, do berço ao túmulo. É patético que tão poucas pessoas deem-se conta de que a preparação militar nunca conduz à paz, mas leva direto ao massacre universal.

Durante a 1ª Guerra Mundial, a América enriqueceu-se fabricando toneladas de munições e emprestando dinheiro aos Aliados para ajudá-los a esmagar os prussianos. (…) Em nenhum lugar do mundo o capitalismo é tão desavergonhadamente ávido quando nos Estados Unidos, e em nenhum lugar o Estado está tão disposto a ajoelhar-se aos pés do capital.

Defender as instituições deste país (os EUA) é defender as instituições que protegem e apoiam um punhado de indivíduos para que eles roubem e pilhem as massas; instituições que sugam o sangue dos autóctones tanto quanto dos estrangeiros, e transformam-no em riquezas e poder; instituições que despojam cada imigrado da cultura original que levou consigo e impõem-lhe, em troca, esse americanismo barato, cuja única glória é a mediocridade e a arrogância.

Não se pode impor o militarismo a homens livres. É preciso ter à sua disposição escravos, autômatos, máquinas, criaturas obedientes e disciplinadas, que se deslocarão, agirão, matarão e dispararão sob as ordens de seus superiores. Eis em que resultará a preparação militar; nada além disso.

A preparação militar é como o grão de uma planta venenosa: uma vez plantada na terra, ela dará frutos envenenados. As massas europeias que combatiam nas trincheiras e nos campos de batalha não eram motivadas por um desejo profundo de fazer a guerra: o que as levou a ela foi a competição impiedosa entre ínfimas minorias de aproveitadores zelosos em desenvolver os equipamentos militares, exércitos mais eficazes, navios de guerra maiores, canhões de longo alcance…

O militarismo destrói os elementos mais sadios e mais produtivos de cada nação. Desperdiça a maior parte da renda nacional. O Estado não despende quase nada para o ensino, a arte, a literatura e a ciência em comparação com as somas consideráveis que consagra ao armamento. E é o suor e o sangue das massas que servem para nutrir o monstro insaciável do militarismo.

Ele se torna cada vez mais arrogante, agressivo, imbuído de sua importância. Para permanecer vivo, o militarismo necessita constantemente de energia suplementar; eis porque ele buscará sempre um inimigo ou, em sua ausência, criará um artificialmente. Ele só pode viver graças ao assassinato. 

A preparação militar encoraja a criação de grupos de interesses, que trabalham consciente e deliberadamente para aumentar a produção de armamentos e manter uma histeria belicista. Esse lobby inclui todos aqueles que estão engajados na fabricação e na venda de munições e equipamentos miliares com vistas a acumular ganhos e benefícios pessoais. Este truste incita à guerra para embolsar milhões de lucro no âmbito desse terrível mercado.

Não basta dizer-se neutro. Tal neutralidade é uma fraude, que só serve para cobrir com um véu hipócrita os crimes de outros países. Devemos denunciar os falsos valores, as instituições malfazejas e todas as atrocidades cometidas pela sociedade burguesa. Aqueles que estão conscientes da necessidade vital de participar de grandes lutas devem opor-se à preparação militar imposta pelo Estado e pelo capitalismo para a destruição das massas. Eles devem incitar as massas a derrubar simultaneamente o capitalismo e o Estado.”

"Se eu não posso dançar, não é minha revolução!"
(Emma Goldman)
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"Emma Gooldman: Uma mulher excessivamente perigosa"

Documentário completo e legendado em espanhol; produzido pela PBS em 2004 para a série American Experience; 1h25min; site oficial do filme.

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