domingo, 22 de setembro de 2013

"Dormimos sobre um Vulcão!" - Tocqueville, às beiras da revolução de 1848 em Paris



DORMIMOS SOBRE UM VULCÃO
Por Alexis de Tocqueville (1805-1859)

"A Revolução Francesa, que aboliu todos os privilégios e destruiu todos os direitos exclusivos, deixou contudo subsistir um: o da propriedade. É necessário que os proprietários não se iludam sobre a força de sua situação e que não imaginem que o direito de propriedade seja uma muralha intransponível, pelo fato de que, até agora, em nenhum lugar tenha sido transposta - pois nosso tempo não se assemelha a qualquer outro.

Hoje, quando o direito de propriedade se torna o último remanescente de um mundo aristocrático destruído, o único a se manter de pé, privilégio isolado em meio a uma sociedade nivelada, (...) corre um perigo maior, pois só a ele cabe sustentar a cada dia o choque direto e incessante das opiniões democráticas.

Logo, a luta política travar-se-á entre os que possuem e os que não possuem; o grande campo de batalha será a propriedade... Vamos acreditar que seja por acaso, por efeito de um capricho passageiro do espírito humano, que vemos aparecer de todos os lados essas doutrinas singulares, que levam nomes diversos, mas que têm todas por principal característica a negação do direito de propriedade e que tendem pelo menos a limitar, a reduzir, a enfraquecer seu exercício?"

De um Manifesto escrito por Tocqueville em 1847

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Discurso à Câmara dos Deputados da República da França em 29 de janeiro de 1848:

"Olhai o que se passa no seio dessas classes operárias, que hoje, reconheço, estão tranquilas. É verdade que não são atormentadas pelas paixões políticas propriamente ditas, no mesmo grau em que foram por elas atormentadas outrora; mas não vedes que pouco a pouco propagam-se em seu seio opiniões, ideias que de modo nenhum irão somente derrubar tal lei, tal ministério, mesmo tal governo, mas a sociedade, abalando as bases nas quais ela hoje repousa? Não ouvis que entre as classes operárias repete-se constantemente que tudo o que se acha acima é incapaz e indigno de governá-las? Que a divisão dos bens ocorrida no mundo até o presente é injusta? Que a propriedade repousa em bases que não são igualitárias? E não credes que, quando tais opiniões adquirem raízes, quando se propagam de maneira quase geral, quando penetram profundamente nas massas, devem acarretar, cedo ou tarde - não sei quando, não sei como -, as mais terríveis revoluções?

Tal é, senhores, minha convicção profunda: no momento em que estamos, creio que dormimos sobre um vulcão... Pois quando passo a procurar em diferentes tempos, em diferentes épocas, entre diferente povos qual foi a causa eficaz que provocou a ruína das classes que governavam, vejo claramente que a causa real e eficaz que faz com que os homens percam o poder é que se tornaram indignos de mantê-lo..."

ALEXIS DE TOCQUEVILLE
"Lembranças de 1848 - As jornadas revolucionárias de Paris"
Clássicos Penguin & Companhia, Pgs. 50-52

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